Muitos
iam atrás de Jesus para buscar dele alguma cura ou solução de problemas. De
fato, Jesus mostrou seu poder divino também através de muitos milagres. Mas a
um certo ponto Ele testou a fé das pessoas, dizendo que daria sua carne para
elas comerem e que ninguém pode se salvar se não através da ação do Pai. Muitos
não O seguiram mais (Cf. João 6,56.65-69). Ele perguntou aos apóstolos se também
eles não queriam abandoná-lo. Pedro logo reconheceu que somente Jesus pode dar
a vida eterna.
Hoje é comum alguns quererem a modificação de verdades e
exigências da Igreja, dizendo que vão abandoná-la se ela não fizer seus
desejos. Mesmo certas normas disciplinares têm razão de ser para um bom
encaminhamento litúrgico e pastoral. Alguns querem seguir opiniões de certos
personagens, que usam da mídia até religiosa, com orientações que contrariam a
renovação litúrgica trazida pelo Concílio Vaticano II. Tais pessoas se colocam
como superiores à autoridade da Igreja, e mesmo a contrariam.
Sem a devida preparação e compromisso com a comunidade,
os sacramentos ficam sem o efeito para o qual são recebidos. Fazer cerimônia só
por ostentação social fica aquém da fé. Há a desculpa de que o Papa “abriu as
portas da Igreja” para todos, mas não se pode aceitar qualquer coisa como
válida. Uma coisa é acolher. Outra é ferir a natureza do sacramento, inclusive
do matrimônio instituído por Jesus.
Na abertura do Concílio Vaticano II o Papa S. João XXIII
lembrou as palavras de S. Paulo: “Cristo amou a Igreja… Ele quis apresentá-la a
si mesmo esplêndida, sem mancha nem ruga, nem defeito algum, mas santa e
irrepreensível” (Efésios 5,25.27). A Igreja é santa pela santidade de Cristo.
Mas é pecadora pelo seres humanos que a constituem. Por isso, é necessário haver
sempre a purificação com a conversão diuturna de seus membros. Então se torna
indispensável todos a ajudarem a exercer sua missão, com contínua mudança.
Alguns querem a Igreja pronta e não se sentem membros dela, ajudando-a a
exercer melhor sua missão. Dizem-se membros, mas, na prática não o demonstram
porque não dão sua contribuição para ela ser mais eficaz no que realiza.
Felizmente temos muita gente de fé, que sabe distinguir o erro de alguns com a
ação da maioria que realmente “veste a camisa” de Cristo e sua Igreja. Quem é
beneficiado com os dons recebidos através da Igreja, e depois a apedrejam,
estão apedrejando o próprio Jesus.
O Papa Francisco insiste, de modo carinhoso e firme,
sobre a necessidade da Igreja viver “em saída”, isto é, em verdadeira missão.
Deve-se sair de uma pastoral de manutenção ou eminentemente sacramentalizadora
para uma pastoral missionária, indo-se atrás dos afastados. Isso requer
conversão pastoral, valendo para o clero e todos os leigos e leigas. Para isso
é preciso ousadia, entusiasmo, convicção e desinstalação. Nosso método não é o
do proselitismo ou pressão psicológica e interesseira e sim o do atrativo e do
ensinamento (Cf. Evangelii Gaudium 14). As Paróquias devem ser constituídas de
comunidades menores, formando verdadeiras redes. Fica mais fácil a participação
de todos, bem como a formação na Palavra de Deus, para se sedimentar a fé
transformadora. A fé autêntica faz a pessoa não só participar de orações e
liturgias, mas viver, praticando e ensinando os valores do Evangelho, na
família, na sociedade, no trabalho, na escola, na política e em todas as
atividades humanas.
Por
Dom José Alberto Moura – Arcebispo de Montes Claros (MG)
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