
Diante
dos embates difundidos na imprensa leiga durante a assembleia extraordinária do
ano passado, é preciso esclarecer que o Sínodo não é um parlamento, não existem
partidos. As decisões não são executivas. O que norteia os debates dos padres
sinodais é a colegialidade, afinal, a palavra “sínodo” na sua raiz quer dizer
“caminhar juntos”.
É
claro que não se pode negar que os pontos de vista dos padres sinodais nem
sempre convergem, contudo a ação é guiada pelo Espírito Santo. Na tentativa de
evitar polarizações inócuas, a secretaria do Sínodo informa que será dada
prioridade para as discussões dos “círculos menores”. Estas reuniões
concentrarão os padres sinodais de acordo com o idioma. Falando a mesma língua,
a Santa Sé espera que as “diferenças” sejam colocadas de lado pelo bem maior da
Igreja e de seus fiéis.
No
próximo mês de outubro dar-se-ão, ao longo de três semanas, as discussões do
14º Sínodo Ordinário cujo tema é: “A vocação e a missão da família na Igreja e
no mundo contemporâneo”. Francisco voltará, por assim dizer, ainda mais seguro
de suas convicções sobre que caminho seguir após participar dos encontros com
as famílias latino-americanas, em Cuba, e do mundo inteiro, na Filadélfia.
O
Sínodo é livre para decidir se publicará ou não um documento final.
Tradicionalmente, as reflexões do Pontífice eram publicadas em uma Exortação
pós-sinodal. Contudo, Francisco, ao final da assembleia extraordinária, teceu
suas considerações após duas semanas de escuta. O discurso do Papa não foi um
documento em nível doutrinal, todavia, serviu de argumento base para grande
parte da imprensa.
A
maioria dos veículos da mídia leiga deu destaque, de modo particular, para três
questões: a indissolubilidade do sacramento do matrimônio; a possibilidade de
casais de segunda união participarem da Comunhão eucarística e o acolhimento
dos fiéis homossexuais e sua participação plena na vida da comunidade.
Assuntos
que convidam ao discernimento não somente dos padres sinodais e do Papa, mas de
todo o povo de Deus. O instrumento de trabalho para o próximo Sínodo, que pode
ser baixado na íntegra em português, contém as proposições que os padres sinodais
recolheram em cada paróquia e sobre as quais refletiram durante muito tempo.
Está dividido em três partes: A escuta dos desafios sobre a família; o
discernimento da vocação familiar e a missão da família hoje.
Nesta
visão macro estão contemplados os pormenores das três questões já acima
citadas, ainda que em sua forma não definitiva. O esboço da primeira reitera
que Deus consagra o amor dos esposos e, portanto, consagra também a
indissolubilidade. Sobre a possibilidade de que os divorciados e recasados
acedam aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, as reflexões sugerem uma
definição que passa por um caminho penitencial “sob a responsabilidade do bispo
diocesano”.
Por
fim, os padres sinodais são uníssonos ao recordar que a Igreja ensina que “não
existe fundamento algum para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas,
entre uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimônio e família”.
Todavia, os mesmos acordaram que independentemente da orientação sexual, a
pessoa deve ser respeitada na sua dignidade e recebida com sensibilidade e
delicadeza, tanto na sociedade como na Igreja.
Ler
e reler, refletir e discernir estes três temas é importante. Mas não é somente
isso que está em jogo. O Magistério do Papa Francisco nos indica que aquilo que
realmente está em xeque é a capacidade da família – como base da Igreja e do
cristianismo – em ser exemplo de amor que vence o individualismo e fonte de
esperança para as gerações futuras.
Por
Rádio Vaticano
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