O que significa este gesto de Jesus, tão inesperado e espantoso que Pedro nem queria aceitá-lo
O rito do Lava-Pés,
na Quinta-Feira Santa, contém um duplo significado, à luz do
Evangelho de João:
– uma imitação do
gesto realizado por Cristo ao lavar os pés dos Apóstolos no Cenáculo;
– a expressão do
doar-se a si mesmo, exemplificada com aquele ato.
Não por acaso, o
gesto é chamado de “mandatum” (“mandamento”) na
antífona recitada na cerimônia: “Mandatum novum do vobis, ut diligatis
invicem, sicut dilexi vos, dicit Dominus” (“Um novo mandamento vos dou:
que vos ameis uns aos outros como eu vos amei, diz o Senhor“; João 13,34).
De fato, o mandamento
do amor fraternal compromete todos os discípulos de Jesus,
sem qualquer distinção ou exceção. Em instruções litúrgicas do século VII já
lemos a indicação de que o Pontífice e todos os membros do clero devem realizar
o rito do lava-pés, o que também pode ser conferido, com variações em
diferentes dioceses e abadias, no Pontifical Romano do século XII, no
Pontifical da Cúria Romana do século XIII e no Missal Romano do Papa São Pio V,
de 1570, que diz:
“Post denudationem altarium (…) conveniunt clerici
ad faciendum mandatum. Maior abluit pedes minoribus: tergit et osculatur”
(“Após o desnudamento do altar, os
clérigos procedem ao cumprimento do ‘mandatum’. O maior lava os pés dos
menores, os enxuga e os beija”).
O “mandatum“,
em sua essência, não é reservado ao clero: o seu sentido é o de colocarmos em
prática o serviço humilde a todos os nossos irmãos, conforme o exemplo
de Jesus a todos os seus discípulos.
Precisamente por
isso, o rito do lava-pés, ao longo da história da Igreja,
não foi necessariamente reservado a doze clérigos ou a doze
homens. No “De Mandato seu lotione pedum” (“Sobre o ‘mandatum’ ou
lava-pés“), que consta no Caeremoniale Episcoporum de
1600, é mencionada a tradição de que o bispo deve lavar, enxugar e beijar os
pés de “treze” pessoas pobres, após tê-las vestido e alimentado e ter-lhes
ofertado esmola em caridade. O ato poderia igualmente ser conduzido com
religiosos, de acordo com os costumes locais ou a determinação do bispo, mas
não de modo obrigatório.
As mudanças mais
recentes no rito estabelecem que quaisquer indivíduos podem ser
escolhidos dentre o povo de Deus, já que a significação do rito não se
limita a uma imitação exterior do gesto de Jesus; trata-se de expressar o
sentido profundo do ato realizado por Ele: doar-se “até o fim” pela
salvação da humanidade, ato que assume importância universal.
O amor de
Cristo, abrangendo toda a humanidade, faz de todas as pessoas irmãos
e irmãs pela força do Seu exemplo. O “mandatum” deixado por Ele
nos convida a transcender o ato físico de lavar os pés do outro para vivenciar
o pleno sentido desse gesto: servir, com amor palpável, ao próximo.
Os 3 verbos do
lava-pés, segundo o Papa Francisco
Na audiência geral
que antecedeu a Semana Santa de 2016, o Papa Francisco abordou
o significado do lava-pés, esse ato de Jesus na Última Ceia que foi “tão
inesperado e chocante” a ponto de que “Pedro nem queria aceitá-lo”.
Quando se abaixou até
os pés dos discípulos e os lavou, Jesus quis deixar claro que se fez servo e
que nós também devemos ser servos uns dos outros: “Também
vós deveis lavar os pés uns dos outros”, afirma Ele, explicitamente, em Jo
13,12-14.
SERVIR
Ser “servos” uns dos
outros nada tem a ver com “servilismo” ou “escravidão”: trata-se do “mandamento
novo” do amor real ao próximo através do “serviço concreto”, e não apenas “de
palavra”. O amor é um “serviço humilde”, concretizado “no silêncio”: “Não
saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”, pede Ele, em Mt 6,3.
PERDOAR
O lava-pés representa
o chamado de Jesus a “confessarmos os nossos pecados e a rezarmos uns pelos
outros, para saber-nos perdoar de coração”. O papa Francisco evocou neste
sentido um texto de Santo Agostinho: “Não desdenhe o cristão fazer aquilo
que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina até o pé do irmão, acende-se
no coração o sentimento de humildade, ou, já se existisse, é alimentado (…)
Perdoemo-nos os nossos erros e rezemos uns pelo perdão dos pecados dos outros.
Assim, de algum modo, lavaremos nossos pés mutuamente”.
Fonte:https://pt.aleteia.org
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