Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal (Canção Nova)
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje gostaria de prosseguir com as catequeses sobre a Quinta
Palavra do Decálogo, “Não matar”. Já destacamos como este mandamento revela que
aos olhos de Deus a vida humana é preciosa, sagrada e inviolável. Ninguém pode
desprezar a vida do outro ou a própria; o homem de fato carrega em si a imagem
de Deus e é objeto do seu amor infinito, qualquer que seja a condição em que
foi chamado à existência.
No trecho do Evangelho que ouvimos há pouco, Jesus nos revela
deste mandamento um sentido ainda mais profundo. Ele afirma que, diante do
tribunal de Deus, também a ira contra um irmão é uma forma de homicídio. Por
isso, o Apóstolo João escreverá: “Quem odeia seu irmão é assassino” (1 Jo 3,
15). Mas Jesus não para nisso, e na mesma lógica acrescenta que também o
insulto e o desprezo podem matar. E nós estamos acostumados a insultar, é
verdade. E nos vem um insulto como se fosse um respiro. E Jesus nos diz:
“Parem, porque o insulto faz mal, mata”. O desprezo. “Mas eu…estas pessoas,
este eu o desprezo”. E esta é uma forma de matar a dignidade de uma pessoa. E
belo seria que este ensinamento de Jesus entrasse na mente e no coração, e cada
um de nós dissesse: “Nunca insultarei ninguém”. Seria um belo propósito, porque
Jesus nos diz: “Olha, se você despreza, se você insulta, se você odeia, isto é
homicídio”.
Nenhum código humano equipara atos tão diferentes
atribuindo-lhes o mesmo grau de juízo. E coerentemente Jesus convida até mesmo
a interromper a oferta do sacrifício no templo se se recordar que um irmão é
ofendido em relação a nós, para ir buscá-lo e reconciliar-se com ele. Também
nós, quando vamos à Missa, deveríamos ter esta atitude de reconciliação com as
pessoas com as quais tivemos problemas. Também se pensamos mal deles, se os
insultamos. Mas tantas vezes, enquanto esperamos que o sacerdote chegue para a
Missa, se conversa um pouco e se fala mal dos outros. Mas não se pode fazer
isso. Pensemos na importância do insulto, do desprezo, do ódio: Jesus os coloca
na linha da morte.
O que Jesus quer dizer, estendendo a este ponto o campo da
Quinta Palavra? O homem tem uma vida nobre, muito sensível, e possui um eu não
menos importante que o seu ser físico. De fato, para ofender a inocência de uma
criança, basta uma frase inoportuna. Para ferir uma mulher pode bastar um gesto
de frieza. Para despedaçar o coração de um jovem é suficiente negá-lo a
confiança. Para aniquilar um homem basta ignorá-lo. A indiferença mata. É como
dizer à outra pessoa: ‘Você está morto para mim’, porque você já a matou em seu
coração. Não amar o próximo é o primeiro passo para matar; e não matar é o
primeiro passo para amar
Na Bíblia, no início, lê-se aquela frase terrível tirada da boca
do primeiro homicida, Caim, depois que o Senhor lhe pergunta onde estava o seu
irmão. Caim responde: “Não sei. Sou porventura eu o guarda do meu irmão?” (Gen
4, 9) [1]. Assim falam os assassinos: “não me diz respeito”, “são fatos teus” e
coisas similares. Vamos tentar responder a esta pergunta: somos nós os
guardiões dos nossos irmãos? Sim, somos! Somos protetores uns dos outros! E
este é o caminho da vida, é o caminho de não matança.
A vida humana precisa de amor. E qual é o amor autêntico? É
aquele que Cristo nos mostrou, isso é, a misericórdia. O amor do qual não
podemos fazer menos é aquele que perdoa, que acolhe quem fez o mal. Nenhum de
nós pode sobreviver sem misericórdia, todos precisamos do perdão. Portanto, se
matar significa destruir, suprimir, eliminar alguém, então não matar é dizer
curar, valorizar, incluir. E também perdoar
Ninguém pode se iludir pensando: “Estou bem porque não faço nada
de mal”. Um mineral ou uma planta têm este tipo de existência, em vez disso o
homem não. Uma pessoa – um homem ou uma mulher – não. A um homem ou a uma
mulher é pedido mais. Há o bem a fazer, preparado por cada um de nós, cada um o
seu, que nos torna nós mesmos até o fundo. “Não matar” é um apelo ao amor e à
misericórdia, é um chamado a viver segundo o Senhor Jesus, que deu a vida por
nós e por nós ressuscitou. Uma vez repetimos todos juntos, aqui na Praça, uma
frase de um santo sobre isso. Talvez nos ajudará: “Não fazer o mal é algo bom.
Mas não fazer o bem não é bom”. Sempre devemos fazer o bem. Ir além.
Ele, o Senhor, que encarnando-se santificou a nossa existência;
Ele, que com o seu sangue a tornou inestimável; Ele, “o autor da vida” (At 3,
15), graças ao qual cada um é um presente do Pai. Nele, no seu amor mais forte
que a morte, e pelo poder do Espírito que o Pai nos doa, podemos acolher a
Palavra “Não matar” como o apelo mais importante e essencial: isso é, não matar
significa um chamado ao amor.
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[1] Cfr Catecismo da Igreja Católica, 2259: “A Escritura, no
relato do assassinato de Abel por seu irmão Caim, revela, desde o começo da
história humana, a presença no homem da cólera e da cobiça, consequências do
pecado original. O homem se tornou inimigo de seu semelhante. Deus expressa a
atrocidade deste fratricídio: “Que fizeste? Ouço o sangue de teu irmão, do
solo, clamar por mim. Agora, és maldito e expulso do solo fértil que abriu a
boca para receber de tua mão o sangue de teu irmão. (Gen 4, 10-11)”.
Via Canção Nova
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